sábado, 10 de maio de 2008

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Fernando Pessoa,
in Mensagem, Brasão, II Os Castelos, Primeiro

"O mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade"
"O mito enquanto estiver oculto, nada vale; quando revelado e explicado, desvenda a verdade"

2 comentários:

mfc disse...

O Mito tem que ser sempre indefinido.

Anónimo disse...

Lembro-me deste poema. Ou o li numa aula ou saiu num teste...

Cá está mais uma vez a "Mensagem", muito bem escolhido Morgaine!

Desculpa a falta de posts mas quando tiver um ideia faço um...